quinta-feira, 28 de março de 2013

Agradecimento.

Quero agradecer o privilégio que Deus me deu , por ter em minha vida e por fazer parte da minha família, minha maravilhosa irmã. A pessoa que mais me deu força e continua dando, que mais esteve presente e hoje está ao meu lado no momento mais difícil da minha vida. 

Sinceramente, não sei o que teria feito sem ela, não sei que rumo minha vida teria tomado. Sempre nos demos bem, mas este acidente serviu para nos unirmos ainda mais e para ver o quanto nos amamos. 

Acho que possivelmente outra pessoa já teria desistido de mim, ou pelo menos, me dado uns bons "tabefes" (risos), porque admito, não sou tão fácil assim. Quantas pessoas posso dizer com tanta certeza, que teriam relevado certas coisas? Não sei mesmo!

Passei muitos momentos de puro descontrole, de mal humor, de irritação, fui mal criado, disse palavrões, gritei, mas minha irmã sempre esteve lá, ao meu lado, nunca desistiu de mim. 

Sempre querendo me agradar, não tem jeito, não perde essa mania, mesmo antes do meu acidente. Sempre me dando presentes, sempre me trazendo algo gostoso, diferente para comer e, por menor que possa ser, sempre me fazendo uma surpesa.
Que Deus guie e ilumine seu caminho, hoje e sempre. O meu mais profundo e sincero obrigado.  Espero um dia poder de alguma forma, retribuir tudo o que você esta hoje fazendo por mim. Te amo muito!


quarta-feira, 20 de março de 2013

Dura realidade (parte 4)

Fiquei sabendo que ali no Vita eu faria o retalho cirúrgico, um, talvez dois enxertos, e a troca do fixador Ilizarov por um melhor, na verdade, um mais adequado ao meu caso. Meu médico entrou com o pedido do Ilizarov, poucos dias depois de minha chegada no Hospital, e esse só foi liberado pelo meu plano, quarenta e cinco dias após o pedido.

Bem, a primeira etapa já havia sido feita com sucesso, e não houve rejeição do retalho, que era uma das principais preocupações nossas. Enquanto me recuperava da cirurgia do retalho, Dr. Claus ia me explicando e me preparando para o próximo passo, que eram os enxertos.

A primeira cirurgia do enxerto, durou pouco mais de duas horas e a área doadora definida foi a parte inferior da coxa direita, a qual hoje já se encontra cicatrizada; no segundo enxerto foi retirada pele da parte lateral externa e superior da coxa esquerda 
 (a lesionada).

Não poderia imaginar que a fase de reabilitação, em ambas cirurgias, seriam tão complicadas e difíceis. Foram muitos e muitos dias de dores, sendo que em cada uma das regiões senti durante a cicatrização, que o local queimava, ardia e havia muita secreção. Imaginem só, ter que aguentar todas as dores causadas pela própria lesão e ainda ter que suportar uma extra. Mais de onze meses depois, ainda há na coxa esquerda, uma parte, ainda que pequena, que não cicatrizou, ainda há secreção e pus; pelo menos não dói.

Até é fácil entender porque há tanta resistência à cicatrização nessa área, pois a perna sofreu muitas lesões, perdeu duas artérias, músculos e com isso, todo processo de vascularização, como já havia mencionado anteriormente, ficou comprometido. Então essa demora pela cicatrização, chega a ser normal e olha que foram feitos vários tipos de curativos diferentes, usando vários cremes, pomadas e óleos.


                    Área doadora do segundo enxerto (depois de cinco meses ainda não cicatrizada).
                     
Bem, no mês de maio foi o retalho cirúrgico e um monte de debridamentos. No mês de junho foram os dois enxertos e mais uma vez, um monte de debridamentos. Julho ocorreu, finalmente, a liberação por parte da Unimed, do Fixador Ilizarov.
Na troca do fixador, a cirurgia foi de quatro horas de duração com anestesia raquidiana e sedação. No final da sedação ainda deu para ouvir sons não muito agradáveis como o da broca da furadeira entrando no osso.


Não tenho foto do primeiro fixador. Essa foto abaixo já é do fixador atual, que tem cinco anéis (hoje na verdade, quatro). As setas vermelhas são arames que atravessam ossos e músculos, de lado a lado (vários), as setas amarelas, são os dois arames que estão presos ao osso e na outra extremidade aos parafusos, que eram ajustados com a frequência orientada pelo médico ( no meu caso, inicialmente de oito em oito horas e depois de doze em doze), fazem o osso crescer e por consequência, fazem o transporte ósseo. Tive que fazer um transporte ósseo de dezessete centímetros.

E as setas azuis, são pinos que são parafusados diretamente, no fêmur, no joelho e abaixo do joelho (o que sobrou da tíbia). Tudo isso com a finalidade de dar a maior imobilidade possível à perna.



No começo, tudo assusta. Quando vemos aquele mundo de ferros (o meu fixador é feito de fibra de carbono e titânio, chique!!!), a gente se apavora. Não vou mentir, que no início incomoda e dói. Mas em pouco tempo, dá pra andar com o fixador, claro que com um monte de limitações, mas as dores iniciais somem. Depois, vez ou outra aparece um fio ou um pino inflamado e ai vem uma dor que às vezes pode durar um dia ou alguns dias, mas acaba passando. Mas não acaba aí não, quando a dor de um passa, aparece outro para te deixar doido (risos).
Tem muita gente que sai andando de muletas, outros ficam um bom tempo em cadeira de rodas. Eu saí da cama no hospital, me locomovendo com andador, acho bem mais confortável que as muletas e no meu caso, bem mais seguro.
Fiquei no Hospital o restante do mês de julho e o início de agosto, me recuperando e me adaptando ao fixador, quando tive alta finalmente.

Como minha irmã mora em Curitiba, fiquei ainda uns vinte dias em sua casa. Nesse período tive que contratar um enfermeiro para ficar comigo por meio período. O Fernando é uma grande pessoa, um "cara muito gente boa". Ele chegava pela manhã e a primeira coisa que fazia era me servir o café na cama (eita mordomia), depois me levava até o jardim para tomar sol, que era um "baita" sacrifício, pois onde minha irmã mora tem uma escada de vários degraus em cada bloco, depois me ajudava no banho, ai assistíamos algum filme ou ficava na internet, dai ele buscava nosso almoço, almoçávamos e lá pelas duas da tarde me colocava na cama e ia embora. 

Nesses vinte dias que ainda fiquei em Curitiba, o Fernando ainda me acompanhou ao Hospital Vita, umas três vezes para consulta (debridamentos), e também uma vez que fiquei apavorado, quando ele descobriu que eu estava com miíase.

O que é Miíase?


Ps.: Quero aproveitar o final deste post, onde termino com o relato de minha alta do Hospital Vita, para deixar aqui registrado meu mais sincero e profundo agradecimento ao Dr. Claus, médico de extrema competência que passa todas as informaçoes com muita segurança, clareza e detalhes. E por se mostrar além do médico que é, uma pessoa humilde e humana. Muito obrigado por tudo!
Não poderia deixar também de agradecer a toda a equipe do Hospital Vita (a equipe de enfermagem, da copa e da limpeza).

sexta-feira, 15 de março de 2013

Dura realidade (parte 3)

Cheguei no Hospital Vita no dia 11/05, a internação foi rápida e no mesmo dia conhecei o Dr. Claus Dietrich Seyboth, meu médico até hoje.
 
Mas antes quero contar uma história bastante interessante; alguns vão achar que não passa de uma coincidência, eu já acho que é a mão de Deus dando uma forcinha.
 
Poucos dias antes da minha vinda para o Hospital Vita, os rumores sobre uma possível amputação eram grandes. Naquela época, essa possibilidade me apavorava (hoje nem tanto), tudo era muito incerto, não sabia se ia ou não conseguir alguém que fizesse a cirurgia que precisava. 

O fato é que meu irmão, logo que ficou sabendo da possibilidade da amputação, começou uma pesquisa na internet e um dos primeiros resultados, foi um site que trazia uma matéria sobre um médico, Dr. Richard Luzzi, que entre outras coisas, dizia se orgulhar de sua equipe, por fazer sete anos que não faziam nenhuma amputação. Infelizmente meu irmão não guardou o endereço eletrônico dessa matéria, mas encontrei outros, que falam sobre o Dr. Richard e a técnica de reconstrução óssea (inclusive, estatísticas sobre os acidentes de moto):
 
 
No dia seguinte, assim que recebi a visita do Dr. Rafael, comentei sobre o telefonema do meu irmão, sobre o Dr. Richard e o Hospital Vita; e ele meu deu a noticia então, que já tinha acertado minha transferência para o Hospital Vita e que conhecia o Dr. Richard e também o Dr. Claus, que tinham sido seus mestres na faculdade. Pelo tamanho da cidade de Curitiba, já imaginou a quantidade de médicos ortopedistas que existem lá? Coincidência?
 
Bem, de cara gostei do Hospital, talvez porque, inicialmente ele tenha sido um Hotel, depois foi vendido ao Hospital, então não tem aquela cara de hospital, lembra mais um spa ou casa de repouso; enfim, fiquei internado os meses de maio, junho, julho e agosto.
 
Vista da entrada do Hospital.
 
 
Vista da sacada do quarto.
 
Os debridamentos eram feitos em um curto intervalo de tempo e depois de pouco menos de um mês, foi a primeira cirurgia, a qual durou aproximadamente dez horas. A área escolhida para ser a área doadora, foi a região dorsal, como pode ser visto na foto abaixo. Foi retirado uma faixa de aproximadamente 40x8cm com músculo e vasos. Olha o tamanho do estrago!
 
 
Logo após a cirurgia, fui diretamente para UTI e lá permaneci por onze dias. Foram tantos momentos terríveis dentro do hospital, que não sei dizer ao certo, se a fase UTI, foi a pior, mas com certeza está entre as piores. No início o problema todo eram as dores horríveis que chegaram a um ponto de intolerância, que foi preciso colocar uma bomba que injeta morfina automaticamente. Não achava posição na cama, passei uns três dias sem comer.
 
Passei muito estresse com a equipe de enfermagem; entendo que em uma UTI, tudo é muito corrido, mas eu apertava a campainha e às vezes eles vinham depois de meia hora, quarenta minutos. Numa ocasião, eu estava me contorcendo de tanta dor e gemendo alto e, veja se tem cabimento, entra uma médica e me manda calar a boca, dizendo que é um absurdo eu estar gritando daquela forma e que estava incomodando os outros. Olha, a sorte dela naquela hora foi que além de ser educado, também não tinha nada por perto para arremessar na infeliz.
 
Só aqui, estando tanto tempo internado, descobri uma coisa bastante óbvia, em todo lugar, em todo segmento de trabalho, sempre vai haver gente boa e gente ruim, gente que ama o que faz e gente que detesta. Aqui, encontrei médicos, funcionários da enfermagem, da limpeza, da copa, do atendimento, que são simplesmente gente. Por outro lado, tive o desprazer de encontrar umas pessoas que não tenho coragem de chamar de bicho, porque seria uma ofensa aos bichos. Sabe aquele tipo que não é nascido e sim cuspido, então, esse tipo de ser, querendo ou não, acabamos encontrando em todos os lugares.
 
Mas da fase da UTI, teve um episódio que foi sem dúvida o pior que pude passar. Eu, bem ou mal, estava me alimentando e um dos grandes efeitos colaterais da morfina, é que ela faz o intestino praticamente não trabalhar. Era, é claro, para uma enfermeira estar me perguntando sempre, se estava evacuando ou não. Ninguém perguntou coisa alguma, e eu naquela situação de dor e muito desconforto, fui deixando os dias correrem e foi lá pelo décimo dia que o "o bicho pegou". Logo pela manhã, depois do café, começou a me dar uma cólica terrível, aí chamei um enfermeiro, que me levou até o banheiro. Sentei, com muito sacrifício e dores, no vaso e lá fiquei. Depois de meia hora, nada, quarenta minutos e nada, daí comecei a suar frio e a pressão caiu lá embaixo, quase desmaiei.
 
Os enfermeiros entraram bem a tempo de não me deixar cair no chão. Me levaram novamente para cama, e eu, lógico, gritava de dor, de cólica. Resultado: um fecaloma fecal! o que é isso? Um pedra de fezes. Daí vem um médico, um daqueles que mencionei acima, o "cuspido", e disse que tinha que tirar com a mão. Colocou uma luva, lubrificante e foi metendo o dedo no meu ânus.
 
Eu tinha feito tanta força sentado no vaso, que estava todo dolorido e vem esse infeliz e vai metendo a mão. Claro, reagi na hora, não por preconceito nem nada, mas porque a dor era quase a ponto de desmaiar. Acabei, involuntariamente ,chutando o médico com o pé e ele ficou bravo.
 
Só aí que ele resolveu dialogar. Me disse que se eu não estava aguentando ia ter que me sedar. Mas o que essa criatura estava pensando? Que eu ia dar risada enquanto ele quase que literalmente me estuprava? Que médico é esse que não me sedou logo de cara?
 
A sedação foi algo próximo de dez minutos. Quando acordei, fiquei sabendo que o médico não havia conseguido tirar o fecaloma e iam por uma sonda. Colocaram a sonda e no fim do dia fui finalmente transferido para uma quarto. Nossa que alívio, não ter que escutar toda aquela parafernália de equipamentos buzinando no ouvido a noite inteira e gente gemendo, tossindo e também morrendo.
 
Fui para o quarto com a sonda de glicerina (acho que era isso), via retal, e lá pelas três horas da madrugada veio finalmente o meu alívio, só ai consegui dormir um profundo e merecido sono.
 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Dura realidade (parte 2)

Caro leitor, acredito que como puderam perceber, meus relatos não são em tempo real. O que acontece, é que só depois de onze meses após o acidente,  resolvi criar o blog, então pode haver pequenas confusões com a sincronia de eventos. Mas logo estarei postando em tempo real, senão diariamente, pelo menos semanalmente.
 
Vou contar todos os detalhes que me lembro, dos primeiros 28 dias que fiquei internado no Hospital Santa Izabel em Blumenau, sendo que no final deste prazo, fui transferido para o Hospital Vita BR em Curitiba.

Quase um mês internado, muita tristeza, muitas dores, mas não era só dor física, era também dor que parecia vir da alma. Não sei explicar bem, mas era uma dor de sentir pena de mim mesmo.

Segundo o psicólogo do hospital, também Dr. Rafael, toda essa dor, toda essa angústia era bastante normal nos primeiro dias. Ele foi de grande ajuda na minha recuperação, pois tivemos longas e longas conversas. Quantas vezes me peguei pensando sobre o porque tinha que ser comigo, porque tinha que ir por aquela rua, naquela hora, e se tivesse passado por ali cinco minutos antes ou cinco depois? São perguntas que por algum tempo, ficaram martelando em minha cabeça, machucando e me fazendo chorar sempre que me vinham esses pensamentos.

São coisas do tipo que na maioria das vezes, não têm um resposta clara. Tinha que acontecer, aconteceu e pronto. Se você acredita em Deus, e eu pessoalmente acredito, então o melhor a fazer, é acreditar que Ele, e só Ele, sabe o que faz. Quem acredita e confia em Deus, sabe que tudo que Ele faz, seja bom ou seja ruim, tem um propósito.

Mas é bastante normal, no começo, ficarmos revoltados, desiludidos, profundamente magoados e por vezes incrédulos. Mas a parte boa, é que tudo isso passa, e depois de algum tempo começamos a reagir e aquelas nuvens pretas, pesadas, carregadas de raios e trovões, começam aos poucos a se dissipar e surge então um lindo sol radiante (eu sei, parece piegas), mas acredite, não é!

Das partes boas que lembro são da solidariedade de tanta gente, até pessoas que não tinha tanta afinidade, como por exemplo,  alguns vizinhos. Foi tanta gente orando e que ainda oram, que me emocionam muito mesmo. Recebi dezenas de telefonemas, mensagens, e-mails. Recebi várias visitas de amigos do meu trabalho, aliás, recebi um apoio tão grande deles, que me surpreendeu; até recebi a visita do diretor da minha empresa, do pessoal do RH (que me ajudou muito na  hora que mais precisei, e me ajuda até hoje), meu chefe e colegas do meu setor. Serei eternamente grato a empresa que trabalho.

Mas a melhor visita mesmo foi da minha mãezinha de oitenta anos, a pessoa mais querida e importante da minha vida. Tadinha, viajou 1200km pra me ver, ficou alguns dias comigo, me doía no coração vê-la dormir naquele sofá duro e desconfortável do quarto do hospital, aguentou firme e forte, mesmo com seus problemas de saúde e sua idade. Ela só voltou para sua casa em Mato Grosso do Sul, quando fui transferido para Curitiba.
 
Bem, além do que já contei sobre a perna, também sofri lesões no braço, tive fratura exposta e quebrei o Rádio e a Ulna, foi necessário a colocação de uma placa com oito parafusos em cada osso. Além disso, houve um área grande que esfolou no asfalto, indo do cotovelo ao punho. Tive escoriações no queixo, e hematomas por quase todo o corpo.

Lembro que havia muitas partes roxas, inchadas e doloridas, aliás, doía o corpo inteiro. Fiquei também com o rosto inchado e roxo por vários dias, segundo minha irmã, pois só tive coragem de me ver no espelho, uma semana depois.

Se tivessem me dito que tinha sido atropelado por uma jamanta, com certeza teria acreditado. Difícil mesmo é acreditar que uma moto possa ter feito tamanhos estragos.
  
Mesmo tomando constantemente as injeções de "dimorf" (morfina), ainda assim as dores eram terríveis, a ponto de me fazer chorar. Fiquei na cama, sem sair dela, praticamente os primeiros 10 dias. Tudo era feito na cama, minhas necessidades fisiológicas, e o que eles chamam de "banho de leito", que aliás, não tem coisa pior.
 
Depois de passado alguns dias, comecei a tomar meus banhos no banheiro; era um verdadeiro "parto" para passar da cama para a cadeira de banho e vice-versa. Eram sempre, no mínimo, duas enfermeiras, às vezes três para me dar e ajudar no banho. Era a pior parte do dia, agradecia a Deus quando voltava para cama.
 
Aí começaram os "debridamentos" ou "desbridamentos" (pode se falar das duas formas e ambos tem a mesma definição), que é a remoção do tecido necrosado de uma lesão. A principio os debridamentos eram feitos com uma frequência de três em três dias , sempre no centro cirúrgico, pois devido as dores que sentia, faziam a anestesia raquidiana, que me dava um grau de  maior conforto após o debridamento.

Nesses 28 dias de internação em Blumenau, creio que foram os piores e também, mais decisivos. Tudo que tinha de novo pra acontecer, aconteceu!

Veio a notícia que havia  perdido uma parte considerável de osso da tíbia, aproximadamente 17cm, por motivos de uma osteomielite (que é em princípio, uma inflamação óssea, usualmente causada por infecção, bacteriana ou fúngica, que pode permanecer localizada ou difundir-se). Graças a Deus, no meu caso foi localizada, isso porque foi retirado imediatamente a parte infectada.

E pra não ficar pior, a pele do local lesionado começou a necrosar; a princípio foi retirado 20% da pele, depois 40%. Lembro do dia que o médico entrou no quarto, depois de vários debridamentos e disse que já havia retirado 80% da pele da minha perna e dois ou três dias depois, perdi 100%. Aí a coisa ficou feia.

A parte da fratura, estava provisoriamente estável, osteomielite controlada, mas quanto a pele ("partes moles" como chamam os médicos), era uma situação bastante delicada e complicada.

Dr. Rafael, como sempre, foi bastante direto, a área sem pele da perna era bastante grande para ser coberta por simples enxertos, então necessitaria de um "retalho cirúrgico", que são segmentos de tecidos com vascularização cutânea e muscular, que possuem vasos que garantam a nutrição própria  do retalho.

Para quem quiser saber mais sobre retalhos cirúrgicos, segue um site sobre o assunto: http://www.ronaldoazze.com.br/fasciculo/fasciculo8.PDF.

O fato é que em Blumenau ninguém fazia esse tipo de cirurgia e foi sugerida minha transferência imediata para Curitiba.

Mais dois dias de brigas com meu plano de saúde, que queria cobrar 3.800 reais para fazer a transferência de ambulância. Um pouco de estresse, mas problema resolvido. Não precisei pagar nada e no dia 11/05/12, fui finalmente transferido para o Hospital Vita BR em Curitiba.

terça-feira, 12 de março de 2013

Dura realidade (parte 1)

Pelo que lembro hoje, conheci o  Dr. Rafael Castanho, no terceiro dia. Minha situação era a seguinte:

À primeira vista, fratura exposta (e põe exposta nisso), minha perna chegou pendurada por um pequeno pedaço de pele. O pneu da moto bateu em cheio na minha perna e segundo o doutor, a batida foi equivalente a uma explosão. 

Ele tirou várias fotos no dia em que dei entrada no hospital, quis me mostrar, mas até hoje não tive a coragem de ver. Quem sabe outro dia!

Tenho uma eterna dívida de gratidão com o Dr. Rafael, pois se tivesse ido para qualquer outro hospital, bem provavelmente minha perna teria sido amputada.

No segundo dia, logo que acordei, percebi algo estranho na perna, mas só depois de alguns dias e com as informações do doutor, é que fui entendendo o que era aquele aparelho, o "fixador Ilizarov".

O primeira coisa a entender, é que se é colocado o fixador, é por que há lesões consideravelmente graves, externas, internas ou ambas, pois se fosse uma questão de ossos quebrados, uma boa botinha branca (gesso), resolveria. Mas quando há a necessidade da colocação do fixador ilizarov, é porque houve talvez, múltiplas lesões, com ou sem perda de massa óssea, associado com ou sem a perda de pele, massa muscular, artérias, vasos e tendões entre outras coisas. Bem, estou abordando este assunto de uma forma bem simples, mas coisa é bem mais complexa.

Com o fixador, é tratado ao mesmo tempo as lesões externas como internas. Abaixo uma ilustração do fixador ilizarov. Mais para frente, postarei fotos reais da minha perna. Fiquem preparados!


Para quem quiser mais informações sobre o fixador, bem como o seu criador, o Dr. Gavriil Abramovich Ilizarov, segue o link:  http://ometodoilizarov.wordpress.com/historia-do-ilizarov/
 

Das três artérias que possuímos na perna, perdi duas, a Artéria Tibial Anterior  e a Artéria Fibular, e  com isso toda parte vascular ficou comprometida.




Foi preciso a transferência de uma safena da perna boa (perna direita - foto), para perna lesionada, para que houvesse a vascularização necessária. 


Perdi a fíbula, essa foi triturada e não teve mesmo o que fazer, a não ser retirar. A tíbia quebrou em três partes.  Perdi grande parte da  massa muscular, perdi alguns tendões do pé, o que não mais me permitirá ter movimentos.


 
Ps.: Sinceros agradecimentos ao Dr. Rafael Castanho, por sua dedicação, clareza e segurança ao passar informações, por sua mais absoluta competência e humildade.  Muito obrigado mesmo.

Os primeiros dias...

Aos poucos, a "ficha" foi caindo, pois vivia dopado, devido a tantas dores. No segundo dia, só perguntava descontroladamente ao Gabriel, o que tinha acontecido e se havia matado alguém. Me vendo naquela situação, percebi o quanto grave era, e por alguns dias achava que estavam querendo me poupar de algo. Acreditava realmente que alguém tinha morrido ou se machucado muito. Acredito que foram os piores dias do acidente. Estava tão fragilizado, que qualquer pessoa que entrava no meu quarto, eu simplesmente desabava em choro.

Minha última lembrança do acidente, foi estar parado com a moto, esperando algum carro, ou alguém passar.  Pasmem, o fato é que fui atropelado por uma moto em alta velocidade. Eu só posso dizer que não lembro o que aconteceu, não vi a moto vindo na minha direção, não sei de onde ela saiu, tanto é que só fui saber que se tratava de uma moto, no dia seguinte ao acidente. Cheguei a pensar que fosse um carro.

Segundo a perícia que esteve no local, chegaram a conclusão que eu fui a vítima, contudo, o rapaz que me atropelou, afirma que fiz uma conversão proibida ou algo assim e que não teve tempo de frear.

Agora, o curioso mesmo é que ele alega não se lembrar de nada, e segundo o que soube, ele foi levado ao pronto socorro, acordado, andando, lúcido e teve dois pequenos ferimentos, um no joelho e outro no cotovelo.

Enfim, não sei algum dia vou descobrir exatamente o que houve, mas de qualquer forma, conversando com um amigo e advogado, fiquei sabendo que existe um prazo de até três anos após o acidente para entrar com uma ação indenizatória.

Quanto ao rapaz que me atropelou, foi uma única vez ao hospital me visitar, após alguns dias do acidente, foi com o "papai" dele, mal me olhou nos olhos, mal falou comigo. O pai dele se defendeu, dizendo que eu estava errado e que não tinham a menor condição de me ajudar financeiramente e nossa conversa se encerrou por ai.

Resolvi que só vou tomar alguma atitude, depois que estiver bem recuperado. Ainda nem dei entrada no DPVAT, mas espero fazer isso muito em breve.
 

segunda-feira, 11 de março de 2013

O dia do acidente.

O meu acidente ocorreu quando voltava do trabalho. Moro em Blumenau e trabalho em uma cidade vizinha, Itajaí. Pego o ônibus na rodoviária todos os dias, por quatro anos e como habitualmente, deixei minha moto no estacionamento. Nesse dia, por volta das quatro horas da tarde, cheguei na rodoviária, peguei minha moto e segui para minha casa. Era uma sexta-feira e não tem coisa melhor que, depois de uma semana inteira de trabalho, voltar para casa, para o merecido descanso do fim de semana.

Entrei na Avenida 2 de Setembro e andei, acredito, por alguns segundos, daí em diante não vi mais nada, não senti mais nada. Não senti dor alguma e só lembro de ter acordado no hospital, já operado, às onze horas da noite.

Segundo o pessoal do SAMU e do hospital, consegui dar as informações que precisavam, pois minha moto, junto com minha mochila contendo todos os meus documentos e celular, foram recolhidos ao pátio da Seterb como de "praxe" em caso de acidentes.

Mesmo meio que inconsciente, só falava o nome do meu compadre Gabriel, pedia para que chamassem ele, mas não lembrava o número do celular, afinal de contas, quem é que lembra o número do celular de alguém tendo agenda no aparelho? Mas depois de algum tempo, buscaram meu celular e conseguiram entrar em contato com ele, que fez todos os trâmites da minha internação.

Quando acordei, a primeira pessoa que vi, foi minha irmã que mora em Curitiba. Mesmo estando ainda atordoado, sob efeito de anestesia, percebi na mesma hora, que meu caso era grave, pois minha irmã estava lá. Depois, no dia seguinte pela manhã, recebi a visita de um casal de amigos. Amigos muito queridos e também hoje, meus compadres.

Ps.: Meus queridos amigos Sheila e Gabriel, vocês são amigos, compadres e anjos que entraram na minha vida. Me ajudaram muito nos primeiros dias, nos primeiros meses do meu acidente e me ajudam até hoje. Amo vocês. Muito obrigado!
 

domingo, 10 de março de 2013

Tudo ao seu tempo.

No dia 13 de abril de 2012, (não sou superticioso mas era uma sexta feira 13) sofri um acidente de moto, na verdade, fui atropelado por uma. Não vi nada, não senti absolutamente nada, acordei horas depois no centro cirúrgico, já operado.

Hoje, quase onze meses depois, me encontro em tratamento e ainda internado. Nas próximas linhas, nas próximas páginas, contarei o drama que estou vivendo, onde dentro dele, descobri forças para lutar, coragem que não sabia possuir, a fé em Deus que se fortaleceu dentro de mim, momentos de depressão, de muita dor e muito choro, muitas incertezas, mas também descobri motivação, novos amigos, novos planos, momentos de pura descontração e apesar de tudo, muita vontade de viver.

Quero contar, ainda que pareça um "clichê", a relação de amor e ódio com o "Ilizarov", esse fixador de origem russa que salva a vida de muita gente; vou contar minha convivência com ele e a expectativa de não precisar de uma amputação.

É inevitável que no começo haja muita dor, e não estou falando só da dor física, mas também de uma que dói na alma, uma tristeza profunda, muito choro, muita desilusão, mas acredite e tenha a certeza, isso realmente passa.

Criei este blog com a intensão que, de alguma forma, possa ajudar, tirando dúvidas na medida do possível, compartilhando tristezas e alegrias, motivando e descontraindo também. Vamos falar bobagens, vamos rir, rir sim, pois faz muito bem.

Temos que aprender e saber que essa fase é bastante difícil e que as vezes não podemos levá-la tão a sério assim, então, vamos rir, afinal de contas, estamos "meio quebrados", talvez "um tanto quebrados", mas estamos VIVOS!